Descentralizando Conhecimentos
O Coletivo Agô Capoeira se reúne semanalmente com o intuito de estudar a ancestralidade relacionando-a com fatores da configuração social atual. Ao longo desse encontros, verificou-se que o padrão da sociedade brasileira contemporânea é impregnado com diversos equívocos sociais dos séculos passados e o resultado disso é uma sociedade sexista, racista, homofóbica e corrupta, que negligencia a educação formal a fim de manter conjunturas de estrutura social com privilégios, oprimindo ainda mais a parcela socialmente fragilizada.
Da mesma forma, a comunidade da capoeira – que faz parte da sociedade vista como “doente” – acaba sendo contaminada com esses distúrbios sociais, tornando-se palco de corriqueiras situações preconceituosas e opressoras. E mais: o agravante é que o espaço de diálogo sobre esses assuntos dentro do universo da capoeira era inexistente nas gerações que nos antecederam.

Percebendo isso, o Coletivo Agô Capoeira idealizou o projeto “Descentralizando Conhecimentos” no ano de 2019 para horizontalizar os diálogos para esse tipo de diálogos dentro da periferia da zona norte do munícipio de São Paulo, auxiliando na quebra de padrão social e propondo a reflexão sobre essa postura dentro da capoeira, partindo dela até chegar na sociedade em geral.
Levar discussões com essa temática é uma obrigação social, além de promover mais um espaço de aquisição de conhecimento em uma região de vulnerabilidade cultural de São Paulo (com uma média de 2.54 equipamentos culturais a cada 100.000 habitantes, dados do Observa Sampa) potencializa e forma seguidores que disseminam essas ideias e diálogos às suas redes de contato.
Ademias, a região possui outra vulnerabilidade social: a violência contra mulheres, dentro e fora do seu contexto familiar e doméstico, atingindo todas as idades; lembrando que esses dados foram agravados nesse momento de pandemia; ainda pela fonte Observa Sampa, nota-se a defasagem do atendimento da rede especializada de enfrentamento à violência, pois ainda que haja uma constância no serviço (medição de 386 mulheres em 2015), esses dados referem-se apenas às mulheres que buscam auxílio, e não às que sofrem a violência – cujas pesquisas informais de fontes próprias revelam que o número é pelo menos duas vezes maior e cresce a cada dia.
O coletivo enxerga que o cenário dentro da capoeira e na sociedade em geral só viverá o início de uma mudança fatídica quando espaços de discussão e conscientização forem criados para o entendimento mútuo, mas locais que promovem essa conscientização são centralizados, promovendo, mais uma vez, privilégio. Assim, percebeu-se a necessidade de descentralizar essa conscientização, democratizar e pulverizar o conhecimento em prol de revigorar uma sociedade adoentada.
Objetivos gerais:
- Promover espaços de discussão nas periferias, descentralizando e pulverizando o conhecimento;
- Ampliar as compreensões de mundo e sociedade junto aos adeptos da artes da capoeira e mostrar àqueles que não são capoeiristas que, independente de suas características – sejam eles “quem” ou “como” forem -, encontrarão um porto seguro em nossa cultura.