O escravo Felipe Angola caminhava sozinho pelas vielas do Rio de Janeiro. Naquele 10 de setembro de 1810, estava longe dos olhos do seu senhor, o comerciante Francisco José Alves, mas era observado de perto. De repente, foi surpreendido por uma patrulha da Guarda Real. Emboscado, tentou uma manobra que dominava: atacou os guardas com um movimento de pernas. Sua habilidade e força não bastaram para conter os três policiais, que o levaram preso. Felipe se tornou o primeiro escravo a ir para trás das grades no Rio de Janeiro por ser capoeirista. A arte marcial (ainda) não era um crime. Só o suficiente para transformar seus adeptos em criminosos em potencial, para uma polícia que agia à revelia da lei.

Praticada por negros de diversas origens africanas, a capoeira não era proibida no início do século 19. A elite carioca, entretanto, se sentia ameaçada pela presença marcante dos capoeiristas (ou “capoeiras”) nas ruas. Enquanto as gangues de lutadores usavam sua arte marcial para disputar território e se defender da polícia, os brancos assistiam a essa agitação temendo que os escravos resolvessem se rebelar para valer. Esse medo tinha sido potencializado pelas notícias da revolta ocorrida no Haiti em 1791. Na ilha caribenha, os escravos tinham abandonado as plantações de cana, destruído engenhos e massacrado proprietários de terra e colonizadores franceses.